terça-feira, 17 de maio de 2011

Primeira edição do Eksperimenta!, em Tallinn, Estônia: uma experiência muito potente!


O Eksperimenta! É um projeto audacioso e maravilhoso. Organizar uma exposição de arte, em moldes profissionais, com a participação de curadores profissionais, para mostrar o resultado de projetos de estudantes, valorizando sua produção, é algo de muita sensibilidade e um trabalho insano! O ambiente da montagem da mostra chamou muito a minha atenção: estudantes e professores de diversos países convivendo, trocando experiências, com uma seriedade e um envolvimento contagiantes. Para mim, professor de artes, brasileiro, ter contato com essa outra realidade, a da Europa, e suas possibilidades, é transformador.

A tarefa de fazer parte do juri internacional, que aceitei com muito gosto, acabou se mostrando ser um desafio absurdo. Passei a pensar se era realmente necessário, numa mostra de estudantes, que faz parte do processo educativo e da formação daqueles indivíduos, que houvesse competição e prêmio de reconhecimento aos “melhores”. Escolher os trabalhos, exposições e artistas vencedores foi algo extremamente difícil, pois além da grande quantidade de trabalhos expostos e do curto tempo para apreciá-los, a qualidade era muito boa também, de maneira geral. E haviam trabalhos nos mais distintos formatos e abordando o tema proposto pelo Eksperimeta!, o espaço, de formas muito distintas.

Para mim houve dois momentos distintos: acompanhar a montagem, observando os trabalhos como membro do juri, e a abertura da mostra, onde pude acompanhar a postura dos estudantes diante do público. No primeiro momento, a exposição da Alemanha foi a que mais me agradou, com trabalhos em vídeo e fotografia, registros de processos e apresentações impecáveis de boas e simples idéias. Depois fiquei sabendo que ali havia um grupo já mais maduro, com idades entre 20 e 22 anos de idade, o que fugia da proposta da mostra. No segundo momento, no evento de abertura do Eksperimenta!, andei bastante vendo o que os estudantes-artistas faziam nesse momento. Foi bonito de ver a curiosidade nos seus olhos ao observarem os trabalhos dos outros países. Mas a postura de um dos grupos me chamou muito a atenção: a turminha da Turquia, cerca de 15 meninos e meninas entre os 8 e os 18 anos, ali sentados na área de sua exposição à espera do público. Quando me aproximei do primeiro trabalho logo sua autora veio falar comigo. Não tive bem a certeza se ela queria ouvir a minha opinião sobre o trabalho ou me dizer algo sobre a ideia. De qualquer forma, a noção de mediação logo me veio a cabeça, e a atenção dos pequenos turcos dedicada ao público, sua abertura para a interação e troca, me comoveu muito.

Foi ao percorrer o espaço desta mostra, a da Turquia, que tive o momento de maior surpresa, ainda observando como jurado. Um dos trabalhos, feito por uma menina de 14 anos, a Cagla Sozen, era de uma maturidade incrível, e demostrava conhecimentos profundos de história da arte, pois o trabalho é uma ideia, como na Arte Conceitual. Uma senteça que é o próprio trabalho: I am just a detail (eu sou só um detalhe). A força desta criação, feita por uma menina tão nova, me deixou curioso sobre este grupo tão diferente dos demais. Fui conversar com o professor e curador da mostra, Alp Gani. Ele me contou que está com este mesmo grupo de estudantes desde que eram muito pequenos e que eles visitam exposições de arte com frequência. A mãe de uma das meninas me disse que ainda em maio eles visitariam a Bienal de Veneza. Ou seja, não foi por acaso que fiquei tão impressionado com o que vi ali. A exposição da Turquia no Eksperimenta! é resultado de um trabalho de longo prazo, sério, e de investimento das famílias na formação de suas crianças desde cedo. Um exemplo a ser seguido.

Para mim, desta experiência toda, fica a vontade de não ser apenas um expectador de fora, mas de participar ativamente, trazendo meus estudantes e nossos projetos. Na primeira edição do Eksperimenta! eu fui só um detalhe, um brasileiro longe de casa, com a curiosidade extremamente aguçada e com abertura total para encontrar o novo, o diferente, o outro. Na próxima edição, quero poder mostrar como nós, do sul do Brasil, com todos os problemas sociais e de infraestrutura que temos, pensamos e desenvolvemos a arte na escola.
 Detail - Cagla Sozen

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