terça-feira, 4 de novembro de 2008

Da artista-professora Maria Helena Bernardes: carta aberta à governadora

Senhora Governadora,

Sou artista plástica e professora de História e Teoria da Arte,
atuante na cidade de Porto Alegre. Por ocasião da exposição
que inaugurei na Galeria de Arte da FUNDARTE, em outubro
último, e ao participar de conferência no Seminário Nacional
em Arte Educação, promovido por aquela instituição na
mesma época, tomei consciência da iminente desativação
do curso de graduação em artes da FUNDARTE/UERGS,
sediada em Montenegro. O que vi e ouvi a esse respeito da
parte de professores, pesquisadores, estudantes e
participantes do seminário, oriundos de todo o Brasil,
senhora governadora, deixou-me constrangida de
pertencer ao estado sob sua gestão.

Atuando em Porto Alegre, oriento estudantes, artistas e
professores de diversas regiões do Rio Grande do Sul e pude
testemunhar a iniciação profissional de jovens graduados pela
FUNDARTE que ingressam na comunidade de artistas e
professores com o entusiasmo de quem sai de uma escola
qualificada e da qual se orgulha. Pergunto-lhe: já esteve na
FUNDARTE? Dialogou com seus alunos e professores? Tem
idéia do trabalho que realizam e da contribuição que, em seus
poucos anos, a graduação da FUNDARTE proveu, em âmbito
estadual? Tem ciência do nível de qualificação dos professores,
que, por falta de perspectiva naquela instituição, têm-se
colocado entre os primeiros classificados em concursos para
instituições federais de ensino de nível superior? Está
consciente da demanda pendente entre os jovens estudantes
desde que a senhora deixou de autorizar novos concursos
vestibulares?

Por omissão ou protelação – ambas inaceitáveis como
justificativa do fechamento de uma instituição pública de
ensino –, o concurso que regulamentaria o quadro de
professores da FUNDARTE junto à UERGS permanece sem
data para efetivar-se. Da mesma forma, os concursos
vestibulares para ingresso de novos alunos permanecem
sem previsão de realização. Não havendo quadro de
professores e tampouco alunos para dar início a mais um ano
letivo, parecerá justificada a desativação do curso. Será essa
a conclusão a que a senhora espera que chegue a classe
educadora e cultural de nosso estado? Seremos assim tão
ingênuos a seus olhos?

Pessoalmente, senhora governadora, ainda me encontro sob
o impacto da notícia a respeito de escolas do ensino
fundamental fechadas em municípios do interior do estado
sob o pretexto de falta de alunos, argumentado pela
Secretaria Estadual de Educação. Para agravar essa
impressão de abandono e indiferença por parte do Governo
do Estado, os jornais de grande circulação divulgam a
inexplicável demora na nomeação de um novo diretor da
FAPERGS, o que deixou nossa principal instituição de fomento
à pesquisa praticamente inativa ao longo de 2008. Será essa
a marca que seu governo deixará na educação e na pesquisa?
A desconstrução? O descaso? A imobilidade?

Desculpe-me a sinceridade, senhora governadora, mas ouso
afirmar que, sem ações que evidenciem o contrário, tenderei
a concluir que seu governo objetiva a imobilidade
administrativa que flagela nossas instituições educacionais.

Esta carta é, também, uma manifestação de solidariedade
para com aqueles estudantes que tristemente vêem anulada
a instituição que os formou e aqueles que já não poderão
candidatar-se a ela em um próximo concurso vestibular.
Minha solidariedade dirige-se aos colegas artistas e
professores da FUNDARTE que transferiram suas vidas das
cidades de origem para se tornarem cidadãos de Montenegro,
cidade que os abraçou nesse projeto que seu governo está em
vias de extinguir por absoluta falta de ação. Minha
solidariedade é para com a educação e a formação artística
qualificadas que perdem terreno em nosso estado, sob sua
gestão.

Senhora governadora, seja na qualidade de artista,
palestrante, ensaísta ou professora, atuando junto a artistas,
estudantes, professores e pesquisadores em artes, serei mais
uma a assumir o compromisso de sensibilizar nossa comunidade
em relação à triste realidade que presenciei em Montenegro.

Maria Helena Bernardes